A equipe paulista chegou à rodada final como virtual campeã, confirmando o triunfo com um empate contra o Cruzeiro (1 x 1). Abel Ferreira chegou a nove títulos pelo Verdão, conquistando o Brasileirão após uma reviravolta inacreditável, beneficiando-se da queda do Botafogo. Quanto ao futuro, o técnico penafidelense continua incerto
“Eu não atravessei o Atlântico para tirar férias”. A frase, dita por Abel Ferreira no dia de sua apresentação como novo técnico do Palmeiras, em 4 de novembro de 2020, soa, três anos e um mês depois, como algo entre uma promessa e uma premonição. Em sua 230ª partida no comando do Verdão, a Portuguesa empatou com o Cruzeiro, conquistando o Brasileirão pelo segundo ano consecutivo.
Os agora bicampeões foram para o último dia da competição como virtualmente triunfantes. Uma vitória ou um empate garantiria automaticamente que o Palmeiras seria coroado campeão, e até mesmo uma derrota para o time de Abel permitiria que ele mantivesse o primeiro lugar, desde que os paulistas mantivessem a vantagem de oito gols antes da rodada final.
Sem precisar se complicar tanto, o Palmeiras empatou em 1 a 1, com mais um gol do garoto Endrick, e terminou com dois pontos a mais que o Grêmio, que teve Luís Suárez, em sua despedida, marcando dois gols contra o Fluminense. O Botafogo, protagonista de uma derrocada histórica, terminou em quinto lugar, fora das vagas de acesso direto à Libertadores e após perder (3 a 1) para o Inter.
Líder durante boa parte da competição, o time carioca somou apenas 13 pontos nas últimas 15 rodadas, a penúltima pior marca da competição. Na 27ª rodada, o Botafogo venceu o América por 2 a 1 no dia 10 de outubro. Essa foi a última vitória da equipe e, desde então, conquistou apenas seis pontos.
Na 27ª rodada, o Palmeiras era o quinto colocado, 14 pontos atrás do Botafogo. Foi quando os dois times começaram suas jornadas inversas: os paulistas terminaram com oito vitórias, dois empates e uma derrota, enquanto os cariocas se afundaram entre vários traumas, como contra os novos campeões, quando lideravam por 3 a 0 no intervalo e perdiam por 4 a 3, contra o Santos, permitindo o empate nos 90 minutos, ou contra o Coritiba, quando lideravam por 1 a 0 aos 98 minutos e sofreram o gol aos 99 minutos.
O COLAPSO DO BOTAFOGO
O Botafogo, que não conquista um título do campeonato desde 1995, teve um início de trabalho brilhante sob o comando de Luís Castro. Nos primeiros 12 jogos, antes da saída do treinador para o Al-Nassr, o time em que Tiquinho Soares brilhava havia vencido 10 vezes, o que lhe dava uma vantagem de sete pontos sobre o Grêmio, que era o segundo colocado na época.
Sem Castro, Cláudio Caçapa treinou três partidas, mantendo o bom momento da equipe com três vitórias. Assim, na 15ª rodada, antes de Bruno Lage assumir o comando do Botafogo, a vantagem era de 12 pontos.
Com Lage, a vantagem dos cariocas começou a desaparecer. Em 10 rodadas, o ex-jogador do Wolverhampton ou do Benfica venceu apenas três, totalizando 13 pontos. Na 25ª rodada, a vantagem havia diminuído para sete pontos, o que ainda era um número promissor, considerando que ainda restavam 13 jogos.
Mas então veio o desastre absoluto. Com Lúcio Flávio e Tiago Nunes, o que já era ruim ficou pior, em uma sucessão de pontos perdidos que deixou a sensação de que o Brasileirão foi tanto ganho pelo Palmeiras quanto perdido pelo Botafogo.
MAIS HISTÓRIA PARA ABEL
No final da temporada, o técnico português recorreu a Endrick, o jovem de 17 anos que já assinou contrato com o Real Madrid e se tornou o quarto mais jovem a jogar pela seleção brasileira. A relação entre os dois nem sempre foi fácil, mas seis gols nos últimos oito jogos fazem do jovem uma das figuras dessa recuperação.
Para Abel, as férias que não são férias ainda estão repletas de glória. O técnico já conquistou nove títulos no Palmeiras, atrás apenas dos 10 conquistados por Oswaldo Brandão.
Além desses dois triunfos no Brasileirão, as duas Libertadores, em 2020 e 2021, marcam uma trajetória dourada que inclui ainda uma Copa do Brasil, dois Paulistas, uma Recopa Sul-Americana e uma Supertaça do Brasil.
São recordes atrás de recordes: técnico com mais títulos internacionais pelo Palmeiras (três); técnico com mais finais disputadas pelo clube (11); maior invencibilidade do Palmeiras na história da Libertadores (18 jogos); maior invencibilidade fora de casa na história da Libertadores (22 jogos).
Na maior competição de clubes do continente, Abel perdeu apenas quatro vezes em 44 partidas. Após vitórias em 2020 e 2021, nas duas últimas campanhas bateu na trave, caindo nas semifinais em 2022 contra o Athletico Paranaense e, nesta edição, sendo derrotado na mesma fase pelo Boca Juniors na disputa de pênaltis.
DÚVIDAS SOBRE O FUTURO
Ao mesmo tempo em que obteve sucesso, os anos de Abel do outro lado do Atlântico também foram marcados pelo desgaste causado pela loucura do futebol brasileiro. Árbitros, gramados e o calendário têm sido muitos dos motivos de reclamações e confrontos do jogador penafidelense.
Para comprovar o quanto o calendário é exigente, basta observar que, contra o Cruzeiro, o Palmeiras disputou 73 partidas em 2023, em uma temporada que começou em 14 de janeiro e termina em 6 de dezembro. Em 2022, foram 74 jogos, começando em 23 de janeiro e terminando em 13 de novembro, um final antecipado devido à Copa do Mundo do Catar. Em 2021, houve um número pornográfico de 91 partidas, entre 6 de janeiro e 10 de dezembro.